sábado, junho 04, 2005

Esse é lindo...=D

Esse texto eu criei inspirada numa mini saga que eu fiz pra Cultura, o começo tá praticamente idêntico ao texto em Inglês, mas o resto não tinha lá...Espero que gostem...


Maria caminhou lentamente em direção ao grande mar azul. Sentiu o vento morno roçando seu rosto e o calor suave do sol matutino queimando levemente sua pele. Parou e olhou mais uma vez para aquela imensidão de água a sua frente. Podia sentir cada pequeno grão de areia sob seus pés calejados. Respirou fundo e deu um grande sorriso. Ela conseguira! Ela finalmente conseguira! Estava conhecendo o mar! Sentou – se na areia morna e começou a relembrar tudo que acontecera com ela até aquele glorioso momento.
Tinha agora 75 anos. Já era avó. Tinha nascido na caatinga, na secura acre do interior nordestino. Desde pequena, aprendera a rezar para que Deus mandasse chuva para a próxima plantação. Costumava brincar descalça no chão esturricado, fingindo ser a princesa de toda aquela imensidão. Quando tinha dez anos, o pai resolvera ir ao litoral, na tentativa de conseguir melhores oportunidades para sua família. Ela, a mãe e os irmãos ficaram aguardando ansiosamente seu retorno.
Passados alguns meses, o pai retornara, com a decepção estampada no rosto. A cidade grande, dissera ele, era um lugar de gente desalmada, gente ruim, onde ninguém ajudava ninguém. Não era lugar para eles. Melhor ficar no interior, mesmo com todas as dificuldades. A única coisa boa que mencionou foi o mar. Ah, o mar! Uma imensidão de água salgada e areia, um ruge – ruge sem fim, ondas enormes quebrando uma após a outra na praia.
A menina, então, ficou fascinada pelo mar. Em seus lindos sonhos, imaginava o dia em que conheceria aquele prodígio da natureza descrito pelo pai. E seu grande sonho foi crescendo junto com ela. Acreditava que algum dia o pai voltaria ao litoral e ela finalmente conheceria o mar...Mas o pai não queria voltar. E nunca permitiria que sua única filha fosse para o litoral. E ponto final. Maria teve que se conformar e seguir vivendo.
Cresceu, casou – se com o afilhado do pai, teve três filhos homens. E, à medida que o tempo passava, seu grande sonho de conhecer o mar ficava muito distante, cada vez mais distante. Ela labutava na roça do marido, e sentia a vida dura da caantinga engolir seu sonho infantil. O tempo passou, os filhos cresceram, e Maria foi se alquebrando pela dureza de sua vida. Nem mesmo sequer se lembrava mais de seu grande sonho.
Um dia, seu filho mais novo avisou que decidira ir estudar no litoral. Achava que não tinha futuro naquele lugar inóspito, que precisava se esforçar e estudar para proporcionar uma vida melhor aos seus pais e irmãos. O marido achou um absurdo, lembrava bem das histórias de sofrimento que o sogro contara ao retornar do litoral. Mas o rapaz era teimoso, e conseguiu convencer o pai à deixa – lo ir. E partiu, deixando Maria com um pedaço a menos no coração.
Com o passar do tempo, ela acabou se acostumando com a idéia de ter o filho longe. Afinal, não tinha muito tempo para pensar nele. A vida exigia muito dela. Trabalhava sem descanso, ajudada pelos dois filhos. Tiveram que trabalhar ainda mais depois que o marido morreu. O filho no litoral dava noticias com pouca freqüência, e depois de algum tempo, as noticias pararam de chegar. Maria foi engolida pela dureza da vida na caatinga, quase que esquecendo também de seu ultimo filho.
Depois de muitos anos, seu filho voltou do litoral. Voltou muito mudado, com roupas diferentes, emprego estável e um carro muito bonito. Maria ficou feliz. Era bom saber que seu filho era feliz e que estava bem. E ficou surpresa quando o filho disse que também queria fazer sua família feliz. Viera decidido a levá – la, junto com seus dois irmãos, para o litoral. Iriam todos morar com ele, até que conseguissem tocar suas próprias vidas. Maria teve medo, mas o filho conseguiu convecê – la logo. Era melhor assim. Teriam uma vida melhor. E quando ela estava arrumando seus poucos pertences, lembrou – se subitamente de seu grande sonho, acalentado durante tanto tempo. O sonho de conhecer o mar. E pensou que chegara a hora de realiza - lo.
Foram embora para o litoral. Ela pediu logo ao filho que a levasse para conhecer o mar. E assim ele fez. Quando Maria viu a imensidão azul diante de seus olhos, mal pôde acreditar. Ela estava lá, ela finalmente estava conhecendo o mar!
Levantou – se da areia, espantando as lembranças para longe. Pediu ao filho que a ajudasse a entrar na água. Tinha medo das ondas...Ele levou – a para a água, segurando fortemente sua mão. Maria sentiu as primeiras ondas de água gelada atingirem seus pés. Nossa, então era assim?! Quando entrou mais fundo, segurando a mão do filho, sentiu uma enorme onda bater em seu corpo. Sentiu o gosto salgado da água. E pensou que tudo era exatamente como ela sempre sonhara. E teve certeza de que agora podia morrer, porque morreria muito feliz.

Ps: Daqui a duas semanas, Enpuli! =D

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